quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Na terra Kaxinawa

Estou na Aldeia São Joaquim, no município de Jordão. Para chegar até aqui, duas horas em um vôo no tradicional teco-teco, de Rio Branco até Jordão, depois, mais uma hora de barco até a primeira de 31 aldeias do povo Kaxinawa. Eles representam um terço da população desse município, situado no Vale do Juruá, no Acre.
A sensação em estar de volta em uma aldeia? A melhor possível. A lua está linda, fechando o dia com de forma especial, coroando o sol e a chuva que dividiram a tarde, dispensando qualquer iluminação de lanterna. O povo é bonito, alegre em suas corres e formas, acanhado com a simplicidade de um amazônida, receptivo, acolhedor.
Aqui nem todos falam português, o idioma de origem tem o Pano como tronco lingüístico. Viemos para celebrar junto aos Kaxinawa a Festa Katxatirim, que tem dois significados: Festa do Gavião e Festa do Marirí. O primeiro recebe quatro formas de canto, o segundo tem 200 canções, todas recordadas pelo pajé. O assunto discutido aqui também é o etnoturismo, que de certa forma já acontece na aldeia, daí a necessidade de se organizar e criar algumas regras para tal, de maneira que as comunidades indígenas sejam menos afetada e tenham mais respeito em suas tradições.
Mas chegar até aqui foi ótima aventura. Logo na saída de Jordão conheci um comerciante dos rios, com seu comércio em um barco, seu Vivaldo Sampaio, de 63 anos. Cheio de histórias e dono de um ótimo café. Depois de cenário exuberante, acolhidos pelo sol e pela chuva, chegando na aldeia, a emoção em visitar uma área sagrada, de plantio de ervas medicinais. Depois, tomar o rapé nos pés de uma estonteante Samaúma, com toda sua grandeza em mata fechada, foi sensacional.
Ver o sol se por, e tomar banho de rio a noite, é uma prazer que o povo Kaxinawa proporcionou. Depois de um jantar regado a caiçuma, um pequeno intervalo, depois a festa. Uma roda regada a "Uni", uma conversa com pajés e lideranças, um momento para o corpo e a mente.
Sabedoria é a palavra que se pode tirar de toda a conversa com pajé e lideranças indígenas. A sabedoria de quem vive na floresta. A noite é tranqüila, embalada pelo cantos dos índios Kaxinawa. No dia seguinte, a neblina aos poucos vai revelando a floresta, as conversas continuam, os gritos indicando que mais festa vem por aí, e a chegada de mais parentes. Mas, para nosso grupo, a festa termina aqui, é hora de voltar. E depois de abraços e mais uma hora de barco, estamos no aeroporto de Feijó, aproveitamos para dar carona a uma adolescente de 13 anos, que após ter bebê, tenta se recuperar de uma imorragia. Parada em Feijó para deixar dois passageiros, e a viagem foi turbulenta, o medo esteve presente. De Feijó para Rio Branco tranqüilidade e até uma aula grátis com o piloto.

Texto escrito na aldeia no dia 28/12
(*Na viagem comigo, Jair Alves, Cassiano Marques e Francisco Pianko)